By Luciana Cruz Brito Alguns pensamentos sobre O dia Internacional da Mulher... Um oito de março mais puxado pra púrpura… Hoje é oito de março e aqui, diante das notícias que vejo e que fazem parte da nossa realidade bárbara, eu me pergunto o que celebrar amanhã. A semana foi dura, assim como tem sido todas as outras. Enquanto a memória de Cláudia, aquela que todas nós somos, ainda está no meu pensamento, não deixo de pensar na vó de uma das vítimas do Cabula. Os promotores da chacina não sabem (ou saberão?) que não mataram somente os 13, mas arrancaram a razão de viver de avós como aquela, além de mães, irmãs, namoradas, vizinhas… Ah as avós, sem elas o que seria das comunidades negras… Onde o estado não chega e adotar criança negra não vira notícia, são elas que nos mantem viv@s, que alimentam, que nos vestem, que nos mandam pra escola. Onde o estado não chega, são as avós que apostam no futuro. Aquela avó, que hoje não tem razão de viver, certamente tem uma vizinha que a traz um prato de comida, que a visita todos os dias, que lhe faz levantar da cama, tomar um banho, que insiste para que ela tome o remédio da pressão...chora com ela e tenta convencê-la de continuar a difícil tarefa de seguir em frente. É assim, o estado nos mata na matança dos jovens rapazes vítimas da polícia, mas também nos mata quando silencia sobre as politicas de proteção à saúde e integridade física da mulher. A sociedade tira nosso pedaço também quando o segurança da loja nos persegue na espera do “flagrante” certeiro que por fim não acontece. Porém, já é tarde demais: o nosso dia foi destruído após um ritual público de humilhação. As nossas vidas são nada mais que um detalhe no jogo político e conservador guiado por fundamentalistas insanos que, contraditoriamente, em nome da vida, criminalizam ou condenam à morte as mulheres negras e pobres vítimas de um aborto mal feito. Enfatizo aqui, somente as mulheres negras e pobres morrem fazendo aborto. Nessa triste intersecção que ataca as mulheres negras de todos os lados, ainda somos as principais vítimas da intolerância religiosa, prova disso é a charge que circulou esta semana que mostra um “gladiador” dando um golpe certeiro no peito da mulher que representa as religiões de matriz africana. Ainda nesta semana, foi também uma mulher seguidora da religião de matriz africana a vítima ( real ou fictícia) do estupro promovido pelo ex-global decadente, que contou com a complacência de um apresentador tão sádico quanto sua platéia insensível, bestializada, irresponsável e machista. Enquanto tudo isso acontece, as mulheres negras sofrem por aquilo que as fere diretamente e pelo que causa o sofrimento daqueles e daquelas a quem elas amam e cuidam. Por isso nós sabemos da importância da nossa existência. Cientes do valor de cada uma, somos nós quem tiramos força de lá do fundo, assim como esperança de algum lugar para levantar umas às outras, numa tarefa muitas vezes solitária pelas nossas próprias vidas. É por isso o título que desse texto faz uma alusão à obra A Cor Púrpura. O livro de Alice Walker revela vários traumas presentes na vida das mulheres negras: solidão, desamor, violência, ou seja, tudo aquilo que sabemos que não é ficção. Porém, é também uma obra que mostra muito bem como, no final das contas, somos nós quem cuidamos umas das outras. Quando Shug canta para para Cellie “Miss Celie Blues” (Sista) , ela justifica a homenagem à amiga/amante dizendo: “...porque era ela quem coçava a minha cabeça (ela quem cuidava de mim) quando eu estava doente.” O primeiro verso diz o que muitas de nós já pensamos, dissemos ou escutamos de outra mulher: “irmã, você tem estado no meu pensamento...eu estou de olho em você.” Aquela seria a primeira homenagem, e talvez única prova de amor recebida por Cellie em toda a sua vida, quando ela imaginava que ninguém poderia perceber seu sofrimento. Eis que Shug surpreende Cellie afirmando que “ela sabe”, ela sabe muito bem o que Cellie sente. É ela, Shug, quem também lembra a Cellie que “lembre do seu nome”, ou seja, lembre que ela é alguém, alguém importante e que ela não está só. Sabemos muito bem o que é ser às vezes Cellie e às vezes Shug e da importância que uma tem para a outra. Assim, se algo deve ser parabenizado, eu parabenizo à todas àquelas que são Shug e que são Cellie, e que trocam de lugar e de função ao longo da vida nessa árdua tarefa de cuidar dos outros, ao mesmo tempo que cuidamos de nós mesmas e de outras mulheres, como nós. Que Yansã nos proteja. Axé. Ps: A tradução de Miss Cellie Blues está abaixo do vídeo que posto junto com esse texto, mas vai aqui também. Irmã, você tem estado na minha cabeça Irmã, nós somos duas de um tipo Então, irmã, estou de olho em você Aposto que você acha que eu não sei nada Além de cantar o blues Ah, irmã, tenho novidades para você Sou alguma coisa. Espero que você ache que é alguma coisa também Lutando, eu estive naquela estrada solitária E tenho visto muitos sóis se pondo Oh, mas confie em mim Nenhuma vidinha lenta vai me pôr para correr Então, me deixa te dizer uma coisa irmã Se lembre do seu nome Nenhum furacão, vai roubar suas coisas embora Minha irmã O show não vai rolar por muito tempo Então balance suas seu corpo Irmã... Pois querida tenho certeza que para Shug está tudo ótimo.
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AuthorThe Silence Transformation Collective is a transnational, multi-lingual healing space for black women to share their reflections and thoughts on life and survival. It is inspired by Audre Lorde's [1984 (1977)] essay "The Transformation of Silence into Language and Action." There she writes, "I have come to believe over and over again that what is most important to me must be spoken, made verbal and shared, even at the risk of having it bruised or misunderstood." Here, we dare to speak and share, recognizing that our silence will not protect us. Archives
November 2017
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